Itajaí:
Anna Carolina questiona negativa do Hospital Marieta de
realizar laqueaduras
Itajaí tem atualmente
mais de 200 mil habitantes, índice de mortalidade infantil que chega a quase
10% e um déficit de vagas em creches de cerca de 2,5 mil crianças. Ainda assim,
o governo não prioriza o planejamento familiar. Um exemplo são as cirurgias de
esterilização de mulheres que, mesmo previstas em lei federal, não são
realizadas pelo *único hospital da cidade. Qualquer Itajaiense que cumpra os
requisitos legais para realizar o procedimento é transferida para o município
de Penha, onde a unidade não tem a mesma estrutura do hospital e maternidade
Marieta Konder Bornhausen, de Itajaí.
"Sabemos que
muitas mulheres acabam desistindo do próprio direito que possuem de fazer a
laqueadura por terem medo de realizar o procedimento em um local que não atende
alta complexidade e não tem, por exemplo, nenhum leito de UTI”, explica a
vereadora Anna Carolina Martins (PSDB), que questionou sobre o problema através
de um requerimento aprovado na última semana. O documento é endereçado à
direção do Hospital Marieta e à Secretaria de Saúde do município.
Ao contrário do que
ocorre em Itajaí, a lei federal 9.263 de janeiro de 1996 estabelece que as
instâncias gestoras do Sistema Único de Saúde (SUS) de todos os níveis devem
garantir a assistência à concepção e contracepção. A legislação prevê o
oferecimento de
todos os métodos e técnicas cientificamente aceitos e que não coloquem em risco
a vida e a saúde das pessoas. Mesmo garantindo a liberdade de opção, a lei
estabelece que a mulher deve ter mais de 25 anos ou pelo menos dois filhos
vivos e ter aguardado um período mínimo de 60 dias, entre a manifestação da
vontade e o ato cirúrgico, para passar pelo procedimento de laqueadura. Além
disso, a paciente precisa registrar a manifestação da vontade em um documento e
passar por uma série de aconselhamentos com uma equipe multidisciplinar.
Em Itajaí, além de
preencher todos esses requisitos, as pacientes ainda necessitam ser
transferidas para o Hospital Nossa Senhora da Penha, no município vizinho, que
oferece apenas procedimentos de baixa e média complexidade. Tudo porque a
administração do hospital Marieta, estritamente católica, não permite a
realização de laqueaduras na unidade. “Esse problema já é de conhecimento
público, mas a nossa expectativa é que fosse resolvido com a mudança da direção
do hospital no ano passado”, afirma Anna Carolina.
Nos últimos 14 meses,
de acordo com informações da própria secretaria de saúde de Itajaí, 38 mulheres
realizaram o procedimento em Penha. Neste mesmo período, 24% das pacientes que
manifestaram interesse em realizar a laqueadura desistiram do procedimento. A
ligadura de trompas faz parte da proposta de mutirão de cirurgias eletivas e,
por isso, é bancada pelo governo Estadual e Federal. O custo de cada
procedimento gira em torno de R$ 340.
A vereadora afirma
que planejamento familiar é um direito garantido em lei que está seriamente
prejudicado em Itajaí por questões religiosas. “Quando sabemos que o Brasil é
um Estado laico, isso é inadmissível, o direito das mulheres precisa ser
respeitado”, lembra Anna, que não descarta a possibilidade de levar o fato para
a justiça.
* Único hospital de
Itajaí que atende adultos.
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